“Eu existo porque antes de mim, alguém existiu”. Citando a líder quilombola do Maranhão, Dona Dijé, a coordenadora do projeto Muxirum Quilombola, Laura Ferreira, apresentou os desafios que sua comunidade em Livramento enfrenta, durante o Seminário do Programa de Qualificação Continuada em Desenvolvimento Sustentável de Mato Grosso, que foi realizado no Parque Estadual Massairo Okamura, em Cuiabá, nos dias 28 e 29 de setembro.
O seminário visa coletar ideias para elaborar um programa que pretende impulsionar a sustentabilidade, o desenvolvimento socioambiental e a capacitação de profissionais para trabalhar com a agricultura familiar e comunidades tradicionais em Mato Grosso.
Apelidado carinhosamente de Programa PEQUIS, o programa ainda está em fase de discussão. É o que explica o coordenador do Subprograma de Agricultura Familiar e de Povos e Comunidades Tradicionais (AFPCT), Marcos Balbino.
Coordenador do Subprograma Agricultura Familiar e de Povos e Comunidades Tradicionais, Marcos Balbino, explica que o Programa PEQUIS vai capacitar produtores e extensionistas (Foto: REM MT)
“A ideia é que com esse trabalho a gente construa um programa de formação continuada para formar técnicos, produtores e líderes comunitários. Assim, eles vão conseguir compreender e trabalhar todos esses temas que temos como desafios, tais quais: a questão de gênero, olhar pra cadeia de valor e todos seus elos, gestão de empreendimentos comunitários, trabalhar a articulação de parceiros locais e territoriais, e trazer mais técnicas de agroecologia e de baixo carbono”, explica Marcos.
MULTIDISCIPLINARIDADE
Para fortalecer a agricultura familiar mato-grossense, o protótipo do Programa Pequis está sendo desenvolvido em conjunto com representantes das comunidades tradicionais, Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT). A GIZ Brasil (Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit) foi responsável por contratar a consultora Devallor, para ajudar o subprograma AFPCT.
A consultora da Devallor, Verena Almeida, pontua que apoiando empreendimentos da agricultura familiar e da rede de estrutura da Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER), não só as comunidades serão beneficiadas, mas a população, economia e sustentabilidade como um todo.
Consultora da Devallor, Verena Almeida (Foto: REM MT)
“Há essa perspectiva da gente melhorar essa assistência técnica no campo, para produzir um alimento saudável e sustentável, integrando questões também relacionadas a gênero, porque isso também fortalece, ajuda a desenvolver e também inclui jovens, visando a sustentabilidade das próprias cadeias de valor e de outros produtos da agricultura familiar. A gente pode avançar no desenvolvimento sustentável, e melhorando Mato Grosso e toda a comunidade”, diz Verena.
REALIDADES COMPARTILHADAS
Direto de Luciara, o retireiro Rubem Alves participou do seminário para expor as dificuldades que os produtores da região do Araguaia enfrentam. Aprendendo a viver conforme a necessidade, ele cita que a regularização fundiária é a principal queixa dos retireiros do Araguaia.
O retireiro Rubem Alves participou para expor as dificuldades que possui (Foto: REM MT)
“Meu tema principal é a regularização fundiária dos territórios que já tão pendentes, tanto entre os povos tradicionais e indígenas e quilombolas na minha região, e não temos assistência no território. Então, a gente vem para levar conhecimento e trazer nossas demandas para as instituições tomarem providências”, cita.
Trabalhando com pecuária nos períodos da seca e cheia, ele pontua que programas como o REM MT são necessários para que essas iniciativas saiam do papel e comecem a ser praticadas.
“O importante é que o REM chega nas comunidades com muita força e faz a diferença, dá a garantia e dá um ânimo nas comunidades. Tem que sair do papel pra gente chegar onde tem que chegar”, disse Rubem.
PERSPECTIVAS
Ana Paula Toledo (Foto: REM MT)
Encarregada do setor que operacionaliza todas as políticas públicas sociais da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Ana Paula Toledo, observou atenta a todas as discussões do seminário. Diante do público diversificado, ela cita que o debate permitiu pensar melhor sobre o associativismo e cooperativismo, como forma de encorajar a agricultura familiar no mercado.
“Foi muito enriquecedor e acho que esse programa vai fortalecer o associativismo e o cooperativismo, porque os agricultores familiares e os povos tradicionais não conseguem ainda enxergar que este é o caminho. Porque eles precisam se unir, tanto em termos de produção e comercialização. É muito mais fácil, porque quando tem uma comercialização em larga escala você consegue por esses dois caminhos, consegue ganhar mercado. E o mais importante: garantir esse mercado, porque individualmente a produção é muito pequena”, explica Ana Paula.
Do Ministério, Luciana Gallon viu como o Muxirum Quilombola evoluiu após ter o apoio do REM MT. De acordo com ela, isso é fundamental para dar acesso a políticas públicas.
Do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Luciana Gallon viu como o Muxirum Quilombola evoluiu após ter o apoio do REM. De acordo com ela, esse apoio é fundamental para desenvolver a atividade no estado.