1. Home
  2. »
  3. Notícias
  4. »
  5. Dia de Campo mostra para produtores do noroeste mato-grossense que pecuária de corte e sustentabilidade…

Notícias

Dia de Campo mostra para produtores do noroeste mato-grossense que pecuária de corte e sustentabilidade podem coexistir

Por Vitória Lopes

Logo na entrada do sítio Canarinho, em Aripuanã (958km de Cuiabá), do pecuarista Ilmo Gauer, é possível perceber a aplicação de práticas sustentáveis na criação de gado: de um lado, há um pasto com capim verde e alto, enquanto no outro, o solo exposto aguarda a recuperação. E para ver com seus próprios olhos que a pecuária e a sustentabilidade podem coexistir, mais de 40 famílias que vivem da pecuária na região participaram do evento Dia de Campo, que foi realizado no local.

À esquerda, pasto não recuperado; à direita, o capim cresceu após implementação práticas sustentáveis (Foto: REM/MT)

Quando adquiriu a propriedade em 2000, Ilmo já tinha o intuito de criar gado de forma sustentável. E, por isso, quando foi selecionado para se tornar uma Unidade de Referência Tecnológica (URT) pelo Projeto de Pecuária Sustentável, o pecuarista não pensou duas vezes.

A implementação das URTs faz parte do Projeto de Pecuária Sustentável na região noroeste de Mato Grosso, financiado pelo Programa REM MT – através do Subprograma Produção, Inovação e Mercado Sustentável (PIMS) – e executado pela Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (Empaer-MT), que auxiliam as famílias do campo a aprimorarem suas produções. Isso é feito com a difusão de novas tecnologias que também garantem o desenvolvimento econômico e social dessas famílias.

Na época, parte da área de preservação do sítio tinha sido derrubada. O gado também tinha acesso a um córrego, fazendo dele o seu bebedouro. Por conta do impacto do peso dos bois, o solo sofreu erosão, o que quase levou o córrego a secar definitivamente.

“Quando compramos, estava desmatado até o córrego, o gado bebia água no córrego. A gente tirou, fez o bebedouro isolando a área, deixamos a vegetação crescer e hoje esta já tem árvore de 20, 30 centímetros de espessura e já está bem recuperado”, diz, orgulhoso de ter colaborado com a recuperação da área. 

Ana e Ilmo Gauer (Foto: REM/MT)

Em 2020, Ilmo e a esposa Ana Gauer receberam uma visita do agrônomo e extensionista rural da Empaer, Hayath Alves. Ele confessa que no início ficou receoso, pensando que o investimento seria alto, mas logo entrou de cabeça no projeto de recuperação e reforma de pastos. 

O técnico difundiu tecnologias voltadas para a bovinocultura de corte, de forma sustentável. Para isso, a área de preservação permanente (APP) foi cercada, para que o gado não tivesse acesso. 

A restauração ecológica foi realizada com a técnica de semeadura direta, popularmente conhecida como muvuca, também financiada pelo Programa REM MT. A contratação de uma consultoria auxiliou a EMPAER no processo de recuperação de 16 hectares de áreas de preservação permanente em 8 URTS, incluindo a do seu Ilmo. 

“Posteriormente do isolamento foi feito um plantio, um conjunto de sementes chamado muvuca, para potencializar a regeneração natural”, conta Hayath, sobre o curso natural da vida.

Recuperação da pastagem

Segundo dados da Empaer, em Mato Grosso, existem 22 milhões de hectares de pastagem e estima-se que pelo menos a metade esteja degradada ou em processo de degradação. A pastagem é a principal fonte de alimentação dos rebanhos bovinos no Brasil. 

Com a qualidade do pasto abaixo do esperado, a eficiência da atividade pecuarista cai, gerando prejuízos econômicos e ambientais. Era o caso da propriedade de Ilmo, que tinha o solo parcialmente descoberto. 

Uma das mudanças foi implementar o manejo rotacionado. “Atualmente, o produtor já vem empregando tecnologias de manejo rotacionado, porém ainda faltava essa dedicação em manejo de solo. Com a vinda do Programa REM MT e a Empaer na execução, nós conseguimos recuperar uma área de aproximadamente 10 hectares, e instalou um sistema rotacionado, onde vai conseguir administrar melhor a entrada e saída dos animais e poder usufruir melhor dessa pastagem, sem que ela se degrade”, explica.

Em seguida, o solo foi tratado com calcário e adubos, para que o capim voltasse a crescer. “O Programa REM ajudou bastante, porque deu um empurrão, entendeu? Na parte de calcário, o adubo, semente, cerca, arame, bebedouro e cocho de sal”, lista Ilmo. 

Regularização ambiental e exigência do mercado

O sítio não é só um modelo de sustentabilidade, mas também a representação do futuro da bovinocultura de corte. Hayath atenta que o mercado não aceita mais produções que não estão de acordo com as leis ambientais. 

Área de preservação e pasto recuperados (Foto: REM/MT)

“Hoje um dos gargalos que nós temos no meio rural, é produzir de forma sustentável, porque o mercado está cada vez mais exigente. Então, vai chegar um ponto em que não conseguiremos mais vender a nossa carne sem regularizar ambientalmente nossa propriedade, além de ter acesso a linhas de crédito voltada para a pecuária”, alerta.

Após ver o resultado da manutenção do meio ambiente, Ilmo planeja estender os 10 hectares que recuperou. “Ano que vem, eu pretendo continuar o projeto, fazer outro sistema de piquete. Se Deus quiser e a verba der certo a gente continua, porque dá resultado”, afirma.

Compartilhe