O mel colhido do favo e a polpa feita da fruta retirada do pé, direto para a sua mesa por meio do projeto Agroflorestas de Querência, executado pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), 60 produtores e produtoras das cadeias produtivas do mel, da mandioca e de frutíferas tiveram suas produções da agricultura familiar fortalecidas, através de capacitações em sistemas produtivos e do recebimento de assistência técnica, insumos e equipamentos.
A iniciativa foi possível graças a uma parceria entre o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) o Programa REM MT (REDD Early Movers Mato Grosso) e a Secretaria de Agricultura de Querência. O objetivo é fortalecer as cadeias produtivas sustentáveis da agricultura familiar, capazes de contribuir para a promoção do restauro produtivo.
De acordo com o coordenador do subprograma Agricultura Familiar, Povos e Comunidades Tradicionais (AFPCTs), Marcos Balbino, os resultados do projeto foram interessantes, que uma segunda etapa será desenvolvida, beneficiando ainda mais a comunidade.
Marcos Paulo (de cinza, com chapéu de palha) (Foto: REM MT)
“Eles tiveram um desdobramento positivo para construir mais projetos, e um deles inclusive foi aprovado pelo REM MT. Vai ter plano de gestão da cadeia de valor da fruticultura para dar sequência a esses trabalhos e vão construir uma agroindústria de polpa de frutas. As coisas estão rendendo”, comemora o coordenador.
Presidente da Associação de Apicultura de Querência (Apiquer), Daniel Stefanello
CASA DO MEL
O presidente da Associação de Apicultura de Querência (Apiquer), Daniel Stefanello, revela que a inauguração da Casa do Mel traz benefícios para todos, já que as abelhas ajudam no processo de polinização dos cultivos no município. Sem falar que com a Casa do Mel, os apicultores poderão garantir mais renda para os seus negócios, além de atrair mais produtores para a atividade.
“Essa parceria foi de extrema importância, porque deu andamento e projeção à Casa do Mel, que foi construída e está prontinha. A apicultura pode trazer maior produtividade e lucratividade pros produtores, assim também como trazer mais ganho de produtividade nas lavouras, porque podemos trabalhar em parcerias, para trazer essa melhor qualidade do grão, do peso, devido à polinização trazida pela abelha e junto com isso, também a renda para os apicultores do município de Querência”, celebra Daniel.
DIFICULDADES DA AGRICULTURA FAMILIAR
Eleandro está no ramo do hortifrúti há 20 anos (Foto: Arquivo Pessoal)
O produtor e presidente da Cooperativa dos Pioneiros de Querência (Cooperquer), Eleandro Mariani, trabalha com hortifrúti há mais de 20 anos, desde que se mudou para Querência. Com a irmã, adquiriu um pedacinho de terra para dar início ao negócio familiar.
“O recurso que a gente tinha só deu para comprar uma propriedade pequena, iniciar pequena agricultura. Procuramos alguma coisa que desse pra gente produzir e nos sustentar, porque temos duas famílias aqui, a minha e a da minha irmã”, conta Eleandro.
A princípio, ele começou a plantar verduras após perceber que a região carecia de produção própria, já que grande parte do hortifrúti encontrado no mercado vinha de fora.
“A gente observou que quase a totalidade de verduras que era consumida no município, vinha tudo de fora, não havia quase produção aqui. Então, a gente viu uma oportunidade de renda numa atividade que praticamente quase não tinha”, relata o produtor.
Apesar do pioneirismo, Eleandro elenca uma série de dificuldades que teve ao começar no novo negócio. Dentre eles, o avanço da agricultura de soja, o uso de agrotóxico e a falta de incentivo na agricultura familiar.
Sistema agroflorestal de Eleandro (Foto: REM MT)
“Os cultivos tem o custo de produção alto, porque as empresas se baseiam no agronegócio, na produção de soja, então a gente acaba pagando insumo caro, porque os grandes produtores têm condição de pagar insumo mais caro e a gente como pequeno produtor acaba tendo que pagar esse preço junto”, cita Eleandro.
Outro fator determinante é a falta de crédito e oportunidades para os pequenos produtores, que ficavam à mercê dos grandes produtores.
“No começo sofremos muito para ter acesso ao crédito. As instituições financeiras só tinham visão para o grande produtor, não tinha muito essa visão pro pequeno. O grande uso de agrotóxicos no entorno dificulta alguns tipos de cultura, tanto por fitotoxicidade, quanto por pressão de pragas e doenças. Os produtores de soja pulverizam as áreas em volta e as doenças e as pragas, acabam vindo para propriedade da gente”, lamenta Eleandro.
COLHENDO OS FRUTOS
Com inauguração do Viveiro e Casa do Mel, também foi realizada uma reforma no viveiro, além de galpão com salas para armazenar sementes e ferramentas (Foto: REM MT)
Mesmo diante das dificuldades, Eleandro e sua família prosperaram e seguem cultivando a esperança de colher bons frutos. Inclusive, ele iniciou um sistema agroflorestal para produção de frutos há uns 4 anos, com a plantação de açaí. Por questões de saúde, a família resolveu investir mais nas frutas.
“Reduzimos bastante a parte de horta, nós não dávamos mais conta, começamos a ficar com problema de coluna. Agora, estamos investindo mais forte na fruticultura”, diz.
Com as capacitações e aquisição de insumos, além da própria construção do Viveiro e Casa do Mel, o produtor observa que o projeto ajudou a fortalecer a agricultura familiar da região. Isto porque agora todos têm expectativas de acessar novos mercados, agregando valor aos produtos.
Essas mudanças ocorreram por conta do Projeto Agroflorestas de Querência, que visa a restauração produtiva para fortalecer as cadeias produtivas sustentáveis da agricultura familiar, executado pelo IPAM. Foram investidos R$ 1,5 milhão.
Já o projeto “Pequi, um sonho possível – Valorizando as cadeias da Sociobiodiversidade do Xingu”, da Cooperquer, vai iniciar com o investimento de R$ 1.176,175,00.
“Isso abriu pra gente a visão de estar fazendo este segundo projeto da Cooperquer, que vai complementar o primeiro e que trouxe muita esperança, principalmente, na questão de poder industrializar, agregar valor e poder comercializar o nosso produto, principalmente na parte de fruticultura que depende de beneficiar”, aponta Eleandro.