Um bom negócio para o produtor rural e para a cidade como um todo. Para quem não sabe, a prática da restauração de áreas degradadas não só promove ótimos resultados financeiros, como também melhora a qualidade hídrica dos municípios e colabora com a preservação do meio ambiente. Foi o que a consultoria Restauragro, apoiado pelo Programa REM MT, fez: mais de 50 hectares de áreas de preservação permanente degradadas em Alta Floresta estão em processo de restauração, incluindo também nascentes.
A princípio, a previsão era restaurar 40 hectares de 6 propriedades, porém a iniciativa deu tão certo que a Restauragro entregou 10 hectares a mais. Ao todo, foram utilizadas 4 toneladas de sementes da Rede Sementes Portal Amazônia, somadas a mais uma tonelada da Rede Sementes do Xingu, para a restauração da vegetação ao entorno dos rios. Estas áreas estão inseridas em microbacias que contribuem indiretamente para o abastecimento do município, proporcionando mais segurança hídrica para a população de Alta Florestense.
A coordenadora do subprograma Produção, Inovação e Mercado Sustentáveis (PIMS) do Programa REM MT, Daniela Melo, ressalta que o programa possui um olhar especial para a construção de estratégias para a restauração.
Coordenadora do subprograma PIMS, do Programa REM MT, Daniela Melo
“Dessa forma, pensando na cadeia da pecuária, o foco é fomentar a produção sustentável da carne, tendo em vista que a promoção do processo de restauração das APPs, estratégia trabalhada em parceria com a Restauragro, é intrínseca ao fortalecimento da pecuária, correlacionando aumento da produtividade com conservação da biodiversidade, manutenção dos cursos d’água, controle da erosão e assoreamento. Com ações como essa, o Programa REM MT, traça exemplos para os produtores locais e traz como legado o restabelecimento de um ecossistema degradado ao mais próximo da sua condição original”, pontua.
Daniela ainda acrescenta: “queremos que mais produtores possam também plantar florestas e, por consequência, tenham melhor valor agregado aos seus produtos”.
Na mira do desmatamento
Thiago (à esquerda) com sementes para muvuca (Foto: Thiago Nogueira)
Segundo recorda o engenheiro florestal Thiago Nogueira, Alta Floresta já esteve na mira do desmatamento, entre 2009 e 2010. Mas, recentemente o Ministério do Meio Ambiente deixou de apontá-la como um dos municípios com maiores registros de queimadas e desmatamento ilegal.
E, por conta disso, muitos produtores foram penalizados, já que os bancos não poderiam ofertar créditos para propriedades rurais que não estivessem de acordo com as leis ambientais. Para se livrar da amarra, um longo processo de mudança de mentalidade foi difundido na região.
“Tínhamos muito problema com queimadas, um aumento ainda significativo do desmatamento ano após ano, e quando travou o crédito, ações de incentivo ao cadastro ambiental rural e processos de recuperação [da vegetação de entorno] de rios e nascentes começaram. E a partir daí os produtores rurais foram tomando consciência e também foram mudando a mentalidade”, reflete Thiago.
Uma crise hídrica em 2015 também fez com que surgisse a necessidade de voltar a atenção para a recuperação de bacias e nascentes. “Nesse sentido de mudança de mentalidade, o produtor aqui na região de Alta Floresta está bem consciente sobre o problema e o que fazer para melhorar”, disse.
Aproveitando este momento de maior conscientização em relação ao meio ambiente, muitos projetos de restauração foram desenvolvidos na região, como é o caso do Restauragro.
Propriedades selecionadas
“Embora a gente tenha feito muitas ações de restauro nos últimos anos, a gente ainda tem muita área de nascente e rios para restaurar. Então, esse contexto de restauração e abastecimento hídrico é muito importante, e aconteceu com a contribuição do REM MT. A gente consegue contribuir para recuperar rios e nascentes, mas também para garantir o abastecimento futuro do perímetro urbano da cidade de Alta Floresta”, explica Thiago.
Entre os critérios de escolha das propriedades onde as restaurações estão sendo feitas estavam: a inscrição ativa no Cadastro Ambiental Rural (CAR), não possuir desmatamento ilegal, além da identificação das principais microbacias hidrográficas que contribui para o abastecimento de água do perímetro urbano do município.
“Dentro dessas fazendas, a gente faz uma identificação das hidrografias e prioritariamente nascentes que precisavam ser restauradas. Então, o critério de escolha da propriedade foi a partir da identificação das microbacias que abastecem a cidade. E dentro do contexto de microbacia, nós identificamos as propriedades onde tem conexão com nascentes”, explica Thiago.
Semeadura
A muvuca é uma técnica de semeadura direta de sementes para restauração (Foto: Thiago Nogueira)
Para conseguir recuperar os 50 hectares que estavam degradados foi necessário contar com o método de semeadura direta, conhecida também como muvuca. A muvuca de sementes é uma forma mais barata para recompor a vegetação em áreas de preservação permanente e reserva legal. Para isso, o programa contou com apoio da Rede Sementes Portal Amazônia e Rede Sementes do Xingu.
“Quando falamos da Rede de Sementes Portal da Amazônia, primeiro que os produtores não sabem que a gente tem uma rede de sementes. E segundo, que isso movimenta a economia muito forte da agricultura familiar, pois a gente tem mais de 100 agricultores familiares na rede, que são coletores de sementes e que têm essa renda adicional ao longo do ano, quando a gente faz esse movimento de restauração. E não só isso, esse recurso, por exemplo, possibilitou a geração de mais de 10 empregos no projeto, durante 5 meses de projeto”, comenta.
Desafios
Ainda de acordo com Thiago, o primeiro desafio foi o custo do investimento. Mas, o Programa REM MT deu uma força nesse contexto.
“Embora a gente tenha tido a oportunidade desse projeto de ter apoio do REM, pro produtor ele sempre tem uma barreira ali econômica, quando a gente vai falar de restauração. Logicamente, com apoio do programa REM, conseguimos superar isso”, garantiu.
Ao todo, o Programa REM MT, por meio do PIMS, investiu em média R$13 mil/hectare, para a aquisição de equipamentos, contratação de mão de obra, aquisição de sementes e monitoramento do processo de restauração.