Imagine a situação: após sobrevoar uma região de mata fechada para apurar uma denúncia de desmatamento ilegal em plena floresta amazônica, a aeronave encontra um local para rapidamente deixar o agente ambiental. Com a promessa de buscá-lo no dia seguinte, o agente começa a sua busca, podendo no caminho ser atacado por animais selvagens e pelos próprios infratores. Os riscos são inúmeros. Porém, o mais angustiante é não poder se comunicar com a sua base caso algo aconteça, pois não há internet nem sinal de celular na região.
Embora possa até parecer uma cena de filme, este é o cenário que os fiscais da Sema e do Ibama enfrentam diariamente em suas missões de trabalho. A boa notícia é que, agora, esta dificuldade finalmente acabou. Isso, porque, com o apoio do Programa REM MT, telefones via satélite foram adquiridos para os agentes, que frequentemente vão a campo em regiões de difícil acesso em Mato Grosso, para combater o desmatamento ilegal e outros crimes ambientais. Os telefones trazem mais segurança e celeridade aos servidores.
Allan Valezi conta que servidores aguardam pela tecnologia há muito tempo (Foto: REM MT)
De acordo com o chefe da divisão técnica ambiental do IBAMA do Mato Grosso, Allan Valezi, o anseio pelo equipamento vem de muitos anos. Ele conta que a comunicação é primordial nas regiões de floresta em que as equipes estão.
“Estamos sempre em locais ermos, locais inóspitos ou no meio do mato. E essa comunicação é fundamental, tanto para a gente manter a segurança da equipe que está em campo, quanto também para conseguir logística para fazer a apreensão e remoção de maquinário”.
Os telefones via satélite funcionam em qualquer lugar (Foto: REM MT)
Como é o telefone?
Os aparelhos são da marca Iridium 9555, que foi especialmente desenvolvido para regiões remotas, nas quais telefones convencionais não possuem cobertura, como plantações, florestas e mares. O celular é portátil e de fácil manuseio, funcionando em qualquer área externa desde que seja direcionado para o céu.
Remoção do maquinário
Por serem locais afastados, não há torres de transmissão. A maioria das ações é voltada para a remoção do maquinário, utilizado em crimes ambientais, como tratores, balsas, caminhões e outros veículos de grande porte.
A destruição de máquinas é considerada por servidores do Ibama uma medida eficaz para conter o avanço de garimpo e desmatamento em áreas protegidas. Com ela, autoridades interrompem o dano ambiental e ao mesmo tempo causam prejuízo financeiro imediato aos criminosos.
“A retirada e apreensão da máquina é o um dos principais fatores de combate ao desmatamento e dissuasão do crime. Quem tem uma máquina de R$ 50 mil, R$ 100 mil, até às vezes R$ 1 milhão, ele sente muito quando perde a posse dessa máquina. Então é um dos principais fatores que garantem o impedimento do desmatamento”, pontua.
Mais segurança e agilidade
Sem acesso à internet ou rede de telefone, Allan explica que para fazer a apreensão, a equipe precisa se dividir, trazendo insegurança e atrasando o trabalho.
“Se eu tenho uma comunicação em tempo real, eu consigo ser mais eficiente e quanto menos tempo eu gastar pra tirar uma máquina de lá, mais eficiente eu sou e mais eu consigo ser efetivo com essa equipe”, conta.
Outros problemas por falta de comunicação também podem afetar as equipes da Sema e Ibama, como a presença de animais peçonhentos, pneus furados e, às vezes, até mesmo emboscadas.
“Às vezes fazemos operação em que a aeronave te infiltra no terreno e vai te buscar no outro dia cedo. Você está em uma área inóspita, na floresta e a gente sempre avalia os riscos que pode ter lá. Às vezes, a própria cobra pica um fiscal, sua segurança está em risco e você não teria contato com ninguém ali. Então, você passa a noite num terreno sem nenhum meio de comunicação, qualquer coisa pode acontecer ali, a gente fica à própria sorte”, relata.
Com os telefones, Romário relata que as equipes vão poder comunicar situações em tempo real (Foto: REM MT)
Por ser um trabalho cauteloso, o coordenador de fiscalização de flora da Sema, Romário Moreira dos Santos, comenta que a própria sensação de segurança tranquiliza os servidores, que acabam desempenhando um trabalho mais eficaz.
“Mato Grosso é um estado muito extenso, tem várias áreas que não tem a cobertura de celulares, então o agente vai exercer fiscalização em qualquer região do estado, de preferência as mais longínquas, onde vai poder ser utilizado esse aparelho”.
Apoio do REM MT
Um dos objetivos do programa REM MT é fortalecer instituições responsáveis pela aplicação de políticas públicas relacionadas à proteção ambiental. A coordenadora do Subprograma Fortalecimento Institucional e Políticas Públicas Estruturantes, Francieli Nascimento, conta que desde 2019, o REM MT tem repassado diversos equipamentos e serviços empregados em ações de fiscalização.
A entrega dos telefones via satélite atende uma necessidade das equipes de campo, que por muitas vezes o acesso à comunicação mesmo em locais ermos, pode facilitar o trabalho e até salvar vidas.
“Nessa primeira fase do Programa, somente a Sema – Coordenadoria de Fiscalização de Flora e o Ibama priorizaram o uso do recurso disponibilizado pelo REM para aquisição dos telefones. Porém numa segunda fase, outros parceiros também poderão ser beneficiados com a comunicação em locais remotos”, pontua.